Feira Folhetaria, Coleção 2irmãos e 3 álbuns
- obrunoguma
- 21 de jul.
- 4 min de leitura
Nos dias 5 e 6 de julho aconteceu a Feira Folhetaria no Centro Cultural São Paulo, e foi bem especial por vários motivos.
Faz um ano que me mudei de volta para Santos e não foi um período fácil. Houve muitas mudanças de lá pra cá, não só geográficas. Um ano de muitas dúvidas, pra resumir. Não preciso entrar em detalhes agora, talvez em uma outra oportunidade. Mas hoje me sinto muito melhor e no controle, com projetos planejados e com amigos que admiro e posso contar.
Dois deles estavam ao meu lado na feira, Fralvez e Atópico.
O Fralvez e eu começamos a publicar no mesmo período e nos conhecemos nesse começo, eu havia recém publicado meu primeiro quadrinho em 2017 e ainda não assinava como Bruno Guma. Ele estava começando o Selo Mangue, ao lado do Thiago Felix e Oda, e estavam organizando uma antologia no modelo das revistas dos anos 80/90, com histórias curtas e entrevistas (participou também Samuel Sajo, Sérgio R M Duarte e Victor Bello). Não lembro exatamente quem me convidou e nem como foram nossos primeiros contatos, mas a revista acabou rolando e logo depois a gente fez um lançamento na Gibiteca de Santos. Já faz 7 anos.
O lançamento foi tipo daqueles que só aparecem dois gatos pingados e a gente fica jogando conversa fora e olhando para o nada. Logo pro final apareceu ninguém menos que Atópico, tal qual um diabo da tasmânia recém nascido, na época ele não devia ter nem 18 anos e acho que ninguém da gente o conhecia. Ele trouxe uma pasta A3 e nos contava histórias do seu trabalho de entregador de água, carregando galões numa bicicleta, enquanto nos mostrava o quadrinho que estava desenhando, dizendo que queria mandar pro Lobo Ramirez e publicar na Escória Comix (hoje ele já tem uns 30 títulos publicados lá). E tão rápido como chegou ele foi embora, eu Fralvez e Thiago ficamos nos entreolhando sem entender muita coisa mas sentimos uma coisa boa.
Outro motivo especial é que foi na folhetaria que o projeto House of Guma começou.
A folhetaria é um ateliê público de serigrafias e gravuras que fica no subsolo do CCSP, aberto para qualquer um interessado.
Sempre gostei de visitar o CCSP e talvez seja um dos lugares mais agradáveis e acessíveis de SP, com um vasto cronograma cultural e atividades gratuitas, biblioteca e espaços de lazer.
Em 2023 foi quando comecei a ir lá pra aprender serigrafia, já tinha visto brevemente na faculdade há algum tempo, mas não lembrava muita coisa na prática. Dali surgiram as primeiras estampas, com a ajuda do Rodrigo (@atrocidade), artista e coordenador da Folhetaria, e outros frequentadores.
Fralvez e Atópico
Coleção 2irmãos
A Coleção 2irmãos é um projeto que idealizei dentro do selo House of Guma com o intuito de convidar pessoas próximas para pensar uma publicação em conjunto, livre de qualquer tema ou linguagem.
O convidado da primeira edição foi o Atópico e disso acabou surgindo o zine Ruins de Briga - Pugilistas de Várzea.
Eu já vinha trabalhando o tema de boxe por interesse na estética clássica, cores e brilhos e todo o imaginário que o envolve, e propus ao Atópico a ideia de criarmos personagens lutadores em conjunto (recomendo ir atrás do vasto catálogo dele pra perceber o pontencial de criar personagens fantásticos com nomes que o seu vizinho poderia ter).
Nessa dinâmica cada um inventou 6 nomes de personagens, e cada um desenhou um personagem baseado no nome que o outro pensou, seguidos de uma breve biografia. O resultado foi uma galeria de esquisitos com históricos de derrotas e fracassos intermináveis, mas que patologicamente nunca abaixam a cabeça.
O zine foi muito bem recebido na feira e agora penso em desdobrar o projeto para outros tipos de impressos e objetos. Posters, camisetas, cards, bonés... o que o orçamento permitir.
Ele e outros produtos se encontram disponíveis na loja online.
Um bom sonho pra você - 3 recomendações
Uma das coisas que mais me dá prazer é descobrir bandas de pós-punk e me perguntar por que ninguém me apresentou isso?
Recentemente vi que entrou para o streaming o álbum de estreia da banda NAU de nome homônimo. Conheci essa banda na coletânea de pós-punk brasileiro Não São Paulo Vol.2, eles participam com as músicas Madame Oráculo e Sofro, e foi a banda que mais me chamou a atenção pois tenho uma queda por vocalistas femininas com baixos em loop dançantes e guitarras estralando.
Depois encontrei no youtube o álbum completo NAU, de 1987 que bateu certeiro em mim. Nos vocais Vange Leonel e na guitarra Zique, ambos falecidos. Não tenho muito conhecimento e as informações são um pouco escassas, assim como tudo do pós-punk brasileiro, mas é um álbum que vira e mexe revisito e fiquei feliz de ver no streaming.
Outra banda que o algoritmo colocou no meu caminho foi a banda Au Pairs, da Inglaterra, com o álbum que é incansável de ouvir, Playing With a Different Sex de 1981. Praticamente um álbum só de clássicos com letras engajadas e melodias viciantes, ótimo pra colocar pra tocar bem alto no meio da tarde enquanto faz deveres de casa. A banda durou só 6 anos mas colocou no mundo dois álbuns imperdíveis, o outro chamado Sense and Sensuality de 1982. Mais um caso de baixos dançantes, vocais com graça e raiva e guitarras nervosas.
Pylon, dos Estados Unidos, também me deu muita alegria ter conhecido recentemente, algumas coisas você sente que vai ser boa só de bater o olho, e não foi diferente com esse álbum. Pela capa percebe-se um certo humor, mas longe de ser bobo. Chomp é de 1983 e é o segundo álbum da banda. Sim, temos vocal feminino. Mais um dos casos de banda que não durou muito, influenciou grandes bandas e ganhou o status de cult. Destaque para as músicas Beep (que é ótima pra ouvir dirigindo), Crazy e Gyrate. Mas todas são muito boas.
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Excelente texto!
Foda!!!